Fato. A música de rua está presente em nosso dia-a-dia. Ao mesmo tempo que ela está presente e viva ela também sofre calada com as injustiças que são cometidas com a mesma; rótulos de musica chata, ruim e desafinada são impostos pelas pessoas que não a apreciam. Toda essa detração e preconceito de pensamento já foram focalizadas em minha última matéria aqui no Repertório Criativo, se lembram?

Visando isso, realizei uma entrevista (via rede social) com o músico carioca (radicado em São Paulo) Pedro Kaulino, que faz da rua o seu grandioso palco e que nele mostra ao dito “povão” o melhor do som underground contemporâneo que é feito hoje em dia.

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Pedro Kaulino e banda.

E vamos a entrevista.

Ivã Habib Ferreira: O que te motivou a levar sua arte para as ruas?

Pedro Kaulino: Aparentemente nenhum motivo especial. Eu estava em casa quando de repente tive a ideia de tocar na rua, e então eu peguei o meu violão e toquei alguns acordes no centro e uma senhora me deu duas moedas de 1 real. E isso foi uma motivação pra mim porque vi que isto dava dinheiro e sempre foi algo que eu sabia que tinha nascido pra isso (tocar). Então cerca de 1 ou 2 semanas eu já estava com minha guitarra elétrica tocando com uma tomada emprestada da banca chegando a ganhar muito mais que 2 reais. E ao longo do tempo eu fui comprando equipamentos melhores a ponto de não precisar pegar mais tomada emprestada e usar bateria de carro que dura cerca de 8 horas seguidas.

IHF:  Em sua opinião, porque a arte que é feita na rua ainda é tão banalizada?

Pedro Kaulino: Porque muitas pessoas são ignorantes e preconceituosas com artistas de rua. Pensam que só porque alguém está fazendo sua arte para o público numa rua ao invés de em casa esta pessoa é o pejorativo “vagabundo” que não tem casa nem família e logo não se deve dar atenção, importância ou valor. Mas muitas outras sabem valorizar. O problema na minha opinião é que as autoridades não gostam que a cultura se espalhe para o povão por que um povo com cultura é um povo menos alienado e sendo um povo menos alienado tem capacidade de ter opinião própria e não estar o tempo todo sendo manipulado pela mídia. E tais pessoas são perigosas para o governo, e como nenhum político quer sair do poder eles preferem manter a multidão na ignorância em benefício próprio.

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Pedro Kaulino em uma de suas apresentações.

IHF:  Qual é sua opinião em relação a reação das pessoas ao serem surpreendidas por você nos locais onde leva suas músicas?

Pedro Kaulino:  Há aquelas que param e apreciam, há aquelas que passam direto e há ainda aquelas que além de apreciarem e me darem atenção contribuem para minha arte. As pessoas são curiosas, onde para um param 2 e assim por diante. Não vou mentir para você, não está nada fácil ganhar dinheiro na rua. Às vezes você se mata e não consegue muito dinheiro. Na minha opinião as pessoas que realmente gostam e que podem doar qualquer valor assim deve fazer para contribuir com a arte. Mas parece que pra cada pessoa apenas um tipo de música as faria contribuir. Uma vez que não existe estilo ou gênero universal, mesmo que muitas pessoas ficassem perplexas e em êxtase pelas minhas músicas não significaria que elas contribuiriam com qualquer valor. Então tudo é muito relativo.

IHF:  Como você vê a situação do artista de rua (seja ele músico, ator, pintor, etc) no cenário atual?

Pedro Kaulino:  Muito pouco valorizado. Cada artista é único em sua arte e por mais que você não goste nem um pouco do tipo de arte ou do gênero musical que ele faz você deve no mínimo respeitá-lo (o que acaba não acontecendo com muita frequência em nosso país). Vejo que artistas cuja arte (na minha opinião) são vazias e primitivas em conteúdo ganham milhões e se tornam famosas ao passo que artistas magníficos com uma arte sublime permanecem no esquecimento e no desconhecimento da maioria das pessoas. A verdadeira arte de hoje é banalizada quando a arte banal é valorizada. Perdem-se o verdadeiro gosto musical e quanto mais sexo explícito e palavrões e palavras banais forem expostas mais o “povão” vai gostar porque as pessoas gostam daquilo da qual elas se identificam. As pessoas ordinárias (comuns) gostam de músicas que falam de cerveja, futebol, MMA e sexo explícito. Uma das razões da qual a verdadeira arte está sendo banalizada

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O músico em uma apresentação em praça Paulistana.

IHF:  Finalizando: O que é arte de rua para você?

Pedro Kaulino: É a maneira que você consegue expressar seu sentimento e emoções através de sons. Arte para mim é a capacidade que o artista têm de musicalizar o que ele sente do fundo de sua alma. O verdadeiro artista para mim é aquele que joga a emoção em suas músicas. Aquele que compõe e transforma seus sentimentos em ondas sonoras é o verdadeiro artista porque ele sente seu verdadeiro sentimento ao tocar assim como o sentiu antes de criar, seja ela arte de rua ou não. “A música é o rosto de Deus” e “Sem a música a vida seria um erro”

 

*Toda a entrevista desta matéria foi realizada no dia  6 de Junho de 2015.

Written By

André Fantin

Editor do Repertório Criativo, publicitário e escritor por teimosia. Atualmente vive na Irlanda em busca de inspiração.