Meu nome é André Fantin, tenho 23 anos e desde 2008 não uso mais o Orkut. Talvez tenha feito isso cedo demais.

Antes mesmo de criar uma conta no Twitter e no Facebook, eu já havia abandonado o meu Orkut completamente. Ainda é possível me localizar lá, mas quem o fizer vai dar de cara com um perfil completamente abandonado e com a página de scraps (alguém ainda fala assim?) repleta de spam.

Como os leitores mais assíduos devem saber, sou publicitário de formação e paixão (cof cof) e assim como os colegas da área, tenho o péssimo costume de cimentar minhas teorias sobre a humanidade baseada apenas nas pessoas com quem me relaciono com maior freqüência. Esse erro – e mais tarde vamos entender por que – me permitiu a tolice de afirmar que o Orkut é uma rede social morta e que não acrescenta em nada um plano marketing.

Para a minha total surpresa, este final de semana, durante o curso de Novas Mídias da YouVitória, descobri que o Orkut ainda é recorde de audiência. Dos 78 milhões de internautas brasileiros, 53 milhões passam a maior parte do seu tempo nesse sitezinho que eu, e talvez você, tinha dado como morto.

Sobre essa mania (péssima por sinal) de acharmos que a nossa rede de contatos dita os passos da humanidade, o consultor de marketing Jaime Troiano escreveu um artigo, ao qual chamou de Mal de Rafael, que acomete muitos de nós profissionais e estudantes de comunicação. Vale a pena a leitura.

 

O Mal de Rafael

Há pouco tempo, eu disse a um conhecido, o Rafael, qual era a participação de mercado aproximada da Coca Light. E ele me disse: ´´Jaime, não é possível, deve ser muito mais alta. Todo mundo que eu conheço toma Coca Light!´´ Fui obrigado a concordar: quase todo mundo que ele conhece toma Coca Light. Dentro do grupo social por aonde ele e eu andamos e o tipo de consumidor que conhecemos, de fato, Coca Light tem market share bem alto!

Os problemas começam quando profissionais de comunicação e marketing trazem ingênua e inadvertidamente essas verdades pessoais para o escritório. Enquanto Rafael continuar o trabalho que faz hoje e não incursionar nessa nossa profissão, estaremos protegidos contra suas crenças pessoais. Mas se ele um dia tentar a vida na área de marketing e comunicação – Deus queira que não! – aí teremos de nos preocupar com seus palpites.

Mesmo assim, o problema continua: o mercado tem´rafaéis´em abundância. Muitas vezes eles têm visões pessoais sobre a experiência de vida de seres próximos: ´´Não é que meu filho seja uma amostra válida, mas…´´. E aí vem a pérola sobre o amplo conhecimento deles a respeito de valores, visão de mundo e comportamento de consumo dessa geração. Outras vezes, eles partilham intimidades conjugais: ?Minha esposa fica irritadíssima quando vê esses comerciais em que o produto…?. Não é preciso muito esforço para imaginar o que vem depois: um rico painel de opiniões sobre como certos tipos de mulher reagem a certas propagandas, por exemplo. Além de filhos e esposas, podem ser a mãe ou os amigos íntimos do Rafael – nesse último caso, a idéia surge sempre durante um churrasco ou no retorno da ponte-aérea.

Brincadeiras à parte, arbitrariedade e subjetividade continuam sendo fonte inesgotável de idéias para definição de público-alvo nos trabalhos de marketing e comunicação das empresas. Essa visão etnocêntrica em marketing, vendo o mercado a partir da ótica pessoal e tribal do executivo, é bem freqüente – ainda que muitas vezes travestida de intuição (´´algo me diz que…´´).

No fundo, essa síndrome na escolha e caracterização do público-alvo tem duas fontes e traz pelo menos duas consequências negativas. O ´´mal de Rafael´´ nasce das seguintes fontes:

1. Um certo sentido de onipotência, comum em nossa profissão: um sentimento que nega de forma absoluta um princípio básico encontrado em qualquer cartilha de marketing: o único ser soberano em todo o processo chama-se consumidor. Ou somos capazes de nos despojar humildemente de impressões subjetivas e de entendê-lo objetivamente, ou estamos fritos.

2. A segunda é quase um espelho da primeira: ainda são baixos e irregulares os investimentos em estudos de comportamento de consumidor. Poucas empresas separam regularmente em seu orçamento verbas razoáveis para essa finalidade. Na maioria dos casos, nos sentimos como o pediatra que recebe uma chamada às duas da manhã porque um garoto está com 39 graus de febre. Febres e cataporas são meio inevitáveis, mas que tal visitar mais periodicamente o pediatra para entender melhor a saúde de seu filho?

A comparação pode não ser perfeita, mas a falta de estudos ´´profiláticos´´ e regulares sobre comportamento de consumidor abre um enorme espaço para as divagações e o uso indevido da pura subjetividade pessoal.

A boa notícia é que o ´´mal de Rafael´´ não só tem cura como é facilmente detectável em diagnósticos precoces!

 

Depois de entender um pouco melhor o cenário da internet e refletir com um pouco mais de maturidade sobre o assunto, fugindo de preconceitos, ideias enlatadas e percepções subjetivas sobre o comportamento das pessoas. Em resumo, humildade, pude levar mais a sério esse vídeo que o Google divulgou semanas atrás sobre o crescimento do Orkut no Brasil.

http://www.youtube.com/watch?v=5Q5wIVEHzEE

 

Postado por André

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André Fantin

Editor do Repertório Criativo, publicitário e escritor por teimosia. Atualmente vive na Irlanda em busca de inspiração.