Há dois meses me olhei bem no espelho e fiquei nada satisfeito. As roupas já estavam muito apertadas e vi que era hora de encarar a realidade de uma dieta forçada para diminuir a barriga. Até aí tudo não passava da mais pura vaidade. Do narcisismo e do desejo de se encaixar em um formato físico mais aceito. Enfim, tudo mudou depois das primeiras semanas.

A verdade é que a cada dia tenho desconstruído um pouco das minhas antigas crenças. Sempre fui daqueles que queria comer o dobro pela metade. Se ia em um restaurante buffet, “tinha que fazer valer a pena”. Cozinhava para dois o que dez comiam e na desculpa do não-desperdício, fazia o trabalho de cinco ou oito bocas.

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Encontros são para comer. Se estamos felizes, comemoramos comendo. Se estamos tristes, precisamos comer para esquecer os problemas. Despedidas de amigos? Comer. Receber amigos? Comer. Sair para um passeio e comer. Ir à praia e comer. Ir ao parque e comer. Como ir ao cinema e não comer? Sem perceber, nosso dia a dia nos leva a um absurdo consumista que tem o tamanho do nosso estômago dilatado.

Hoje tento aprender a me relacionar melhor com a comida. Comecei por causa de uma dieta para redução de gordura que agora se estendeu a reduzir minha ignorância sobre o que é a vida e o que realmente importa.

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Eu não costumo praticar esse discurso oralmente no meu círculo de amigos porque entendo que é um conceito difícil de se assimilar se você não o vive. Por muito tempo não conseguia entender como alguém entrava em um restaurante e comia duas folhas, uma colher de arroz, meia concha de feijão e um pedacinho miúdo de carne. Hoje eu praticamente vivo isso.

Digo praticamente porque meu “porte físico” não me permite comer doses muito reduzidas. Se eu o fizer, desmaio. Mas tenho praticado uma educação alimentar que não faça com que eu sinta meu estômago explodir, nem que fique vazio depois de uma refeição. Ele precisa estar no ponto em que eu posso levantar da mesa e conseguir andar sem o incômodo de uma bermuda apertada, nem a fraqueza de quem não comeu o suficiente.

A principal lição que tenho aprendido nesses dois meses é que excesso de comida não traz felicidade. Montanhas de doces, frituras e bebidas só pesam no outro lado da balança. Além das consequências óbvias e conhecidas dos danos à saúde, porções além daquilo que você realmente necessita fazem de você um idiota.

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Ao menos é isso o que o seu corpo e sua consciência estão pensando, mesmo sem você perceber. Beleza, podemos nos enganar dizendo que está tudo bem e que comer demais está liberado. A comida está ali para isso. Mas nos esquecemos de que o nosso corpo não está ali para isso.

A felicidade é um nutriente importante que precisamos, mas ela não está dentro de uma feijoada, na camada de um pavê ou mergulhada em caldas. Ela está no momento em que vivemos. Se passamos a simplificar todos os nossos grandes momentos em comida, o que vai sobrar quando não dispusermos mais de tanta fartura?

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Nos últimos dois meses tenho aprendido (e tendo recaídas, mas sempre voltando ao foco) que comida não é o essencial para encontrar a felicidade. Não precisamos transformar cada encontro em um paraíso alimentício. Temos criatividade de sobra para nos proporcionar bons momentos sem precisar ficar mastigando o tempo inteiro. Talvez, se usássemos mais as nossas bocas para contar histórias, sorrir e assoviar, passaríamos menos tempo usando-a para reclamar de como estamos infelizes.

 

Postado por André

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André Fantin

Editor do Repertório Criativo, publicitário e escritor por teimosia. Atualmente vive na Irlanda em busca de inspiração.