Em 1998, ganhei o meu primeiro Tamagoshi, ele era a sensação da época e todas as crianças da minha idade pareciam ter um. Por outro lado, aqueles que eram um pouco mais velhos censuravam a nossa dependência em ter algo que nos exigisse tanta atenção. Afinal, tínhamos que alimentá-lo, dar banho, brincar com ele, dar vacina, fazê-lo dormir e outras funções que dependiam se o Tamagoshi era original ou foi comprado no camelô.

Tamagoshi e Twitter

O mais interessante, no entanto, foi perceber que 13 anos mais tarde eu ainda continuo bricando com o meu Tamagoshi. Claro que ele não é igual ao da minha infância, ganhou novo status e novas funcionalidades. A principal delas é me comunicar com amigos e pessoas que eu não tenho ideia de quem sejam.

Nao embarquei nessa sozinho, vários da minha idade cresceram e trocaram seus Tamagoshis pela versão 2.0, que a propósito se chama Twitter. Estou generalizando Twitter, quando na verdade quero englobar todas as essas redes sociais que, mesmo sem percebermos, ocupam o nosso tempo, exigindo que sejam alimentadas. Vejam a ironia nessa última palavra.

Deixamos para trás os nossos amigos dinossauros que nasciam e morriam com uma frequência determinada pelo nosso desleixo, para nos transformar em nossos próprios Tamagoshis, criando uma vida virtual que demanda muito a nossa dedicação, caso queiramos crescer fortes e não morrermos. No ostracismo.

Talvez vocês não estejam vendo a coisa toda da forma que eu estou vendo, mas a analogia é bem simples. Se antes cuidávamos de pequenas coisas, hoje, tornamo-nos pequenas coisas que precisam ser cuidadas por nós mesmos. Enorme dualidade, eu sei e não recrimino. Afinal, um blog também é um Tamagoshi que eu preciso ficar cuidando e se eu somar ele a todas as redes sociais em que estou presente, posso dizer que tenho bem mais Tamagoshis hoje do que todas as crianças da minha rua de infância.

O ponto a ser refletido, então, não é apenas sobre a transformação que fizemos com o brinquedo, mas sim o uso dele. Conscientes, ou não, estamos nos coisificando, sendo cada vez mais imagem virtual do que real. Convido vocês a pensarem sobre isso.

 

Postado por André

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André Fantin

Editor do Repertório Criativo, publicitário e escritor por teimosia. Atualmente vive na Irlanda em busca de inspiração.