E não é de hoje que venho observando isso. De tempos em tempos um esporte desperta, brota e inflama o coração da nação como se aquilo sempre tivesse feito parte da vida das pessoas. Torna-se tão empolgante quanto outras coisas que adoramos, como sexo e open bar. Não estou me referindo a pessoas especialistas no assunto, como críticos e jornalistas esportivos ou mesmo os próprios atletas. É a massa.

O exemplo mais recente do que estou tentando descrever é o UFC. Esquecida nos canais pagos e notas de quinze segundos nas principais mídias por muito tempo (ou desde sempre), agora é praticamente a nova paixão nacional, capaz de lotar bares nas madrugadas, criar torcedores que levantam e se encolhem a cada golpe e que são capazes de gravar nomes dos principais lutadores. Se você acha o UFC um exemplo ruim, posso listar alguns outros. O tênis, por exemplo. Pouco se falava sobre tênis até o Guga se tornar o número 1 do ranking e colocar o esporte nas ruas e nas escolas. Que nem sequer estavam preparadas para receber o esporte. A tática básica era sempre abaixar a rede do vôlei para que os alunos pudessem praticar o novo esporte da moda. Que aliás, nem está mais na moda, perceberam?

Claro que existe o que eu gosto de chamar de “ressaca do esporte”. Quando um grande número de pessoas passa a praticá-lo mantém-se um bom número de pessoas interessados por alguns anos ainda. Mas, podem ter certeza, se um novo Guga não surgir logo o tênis será tão relevante para o brasileiro quanto o ping pong ou arremesso de peso. Quem são nossos grandes nomes nesse esporte mesmo? Certamente temos alguém que ainda não chegou ao topo, por isso não conhecemos, não lembramos, não nos importamos.

Mas ok, justiça seja feita quanto ao futebol. Mesmo quando a seleção está na pior o brasileiro continua ao lado dos nossos jogadores. Pelo menos a maioria, pois já cansei de ver gente torcendo contra o Brasil. Inclusive em clássicos como Brasil x Argentina, afinal, Messi é um campeão e merece receber a torcida de um povo que torce por vencedores.

Ainda no futebol, o que estarão fazendo as meninas do futebol feminino? Quando Marta foi eleita a melhor jogadora do mundo a nação adorava futebol feminino. Sabia até o nome de algumas jogadoras importantes e até acompanhava os jogos. E agora?

Quase no mesmo patamar que o futebol, temos também o vôlei que sempre nos encanta com belíssimas vitórias (obrigado, Bernardinho e cia), espero que vocês continuem sendo vencedores, pois gosto de assistir a todas as partidas e não quero ver o esporte perder um espaço que demorou a conquistar. O vôlei feminino tem lá o seu mérito, mas a nação sempre se decepciona com elas nas finais e acabamos tendo notícias apenas quando elas estão quase lá. No resto do ano é ostracismo.

Mas as olímpiadas estão aí e já não tem muita gente falando sobre o assunto. Por motivos que sabemos quais são. Mas as olímpiadas é a oportunidade perfeita para o brasileiro conhecer esportes que se quer sabia que o Brasil tinha desportistas. É assim no judô, ginástica rítmica, tiro ao alvo, vela, vôlei de praia, nado sincronizado, hipismo e natação, que possui um córun bom de vencededores para sobreviver na memória das pessoas até um pouco depois disso.

Claro que podemos dizer que a influência da mídia atua forte nos nossos corações. Somos incentivados a amar tudo o que é mostrado e o interesse da mídia é mostrar os que vencem, afinal, qual o mérito dos que perdem? Mas o que realmente é difícil de entender nessa situação toda é a falta de gosto pessoal. Descobrir um esporte porque ele está “na moda” e começar a torcer por ele praticá-lo como se você tivesse sido destinado a fazer isso da sua vida é ok, mas porque abandoná-lo quando seus ídolos não estão mais no auge ou a mídia parou de mostrar eles para você no horário nobre? Cadê o boxe brasileiro?

 

 

Postado por André

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André Fantin

Editor do Repertório Criativo, publicitário e escritor por teimosia. Atualmente vive na Irlanda em busca de inspiração.